Estará próximo o fim do capitalismo?

Eduardo Frigoletto de Menezes
Nas últimas décadas, a crença de que os imperativos de mercado podem e devem assumir o comando da economia dos países com a consequente redução do papel do estado nas economias foi adotada através do neoliberalismo.
Com o grau de globalização atual, era de se esperar que no momento em que os Estados Unidos - maior comprador do mundo - entrasse em dificuldades, a economia mundial fosse afetada como de fato vem ocorrendo. Com um PIB que supera os 13 trilhões de dólares anuais, um estilo de vida ambientalmente insustentável (emitem cerca de 30% de toda a poluição mundial) e comandando um capitalismo desvinculado da distribuição de renda e do caráter social, que promove uma maior concentração de renda nas mãos de poucos a custa da miséria de muitos, aquele país permitiu que suas instituições bancárias iniciassem uma crise que talvez não tenha precedentes nos tempos modernos.
Num mundo já marcado pelo desemprego estrutural, as demissões são anunciadas aos milhares e o pior é que elas ocorrem em empresas que adotam tecnologia moderna e, portanto empregam mão-de-obra especializada que dificilmente conseguirá trabalho nas mesmas funções. Expressões como: férias coletivas, redução de carga horária, redução de salários são cada dia mais íntimas da população.
Na Europa, as dívidas públicas crescentes, o envelhecimento da população com consequente aumento das despesas sociais, a concorrência com os países asiáticos, tudo isso também ajudou a agravar a situação. A Islândia já está sendo considerada falida. A libra esterlina que já foi a moeda mais valorizada do mundo teve sua cotação bastante reduzida, deixando à mostra sérios problemas na Inglaterra. Na Espanha, o desemprego é quase o dobro da média dos países mais desenvolvidos daquele continente, beirando os 14%. A Alemanha perdeu seu status de 3ª economia mundial para a China.
Já na Ásia, o Japão, que pelo menos em 2009 ainda será a segunda economia mundial, deve ser ultrapassado em 2010 também pela China. Naquele país, a falta de mercado consumidor interno, a dívida pública e as quedas nas vendas vêm desempregando os imigrantes, a exemplo dos dekasseguis que além de perderem seus empregos, também ficam sem um teto para morar e, dessa forma, são obrigados a realizar a “migração de retorno” ao Brasil.
Contrariando o neoliberalismo, a moda agora é o neo-intervencionismo estatal com a estatização de bancos e empresas privadas, a liberação de empréstimos bilionários, a volta do protecionismo de mercado e a promoção de obras para criação de empregos, numa espécie de reedição do “Novo estado de bem-estar social” (New Deal).
Já o Brasil, que vinha passando por um momento especial de sua economia, com o aumento de seu IDH que pela primeira vez situa-se entre os considerados altos, a auto-suficiência de petróleo, o anúncio da descoberta de várias jazidas de petróleo e gás natural, principalmente na camada do pré-sal, a diversificação de suas trocas comerciais com outros países além dos EUA, vem anunciando que a crise por aqui não tem as mesmas dimensões que em outros lugares, alegação que não encontra respaldo nos números de demissões anunciadas que só este ano já superam 700.000. O pior de tudo é que precisaríamos criar a cada ano cerca de 1.000.000 de novos empregos para acompanhar nosso crescimento populacional.
Mais do que os efeitos nocivos, essa crise é uma nova chance para que o mundo repense sua forma de vida.
É inequívoco afirmar que há de se criar uma nova forma de convívio entre a economia e o social, a economia e o meio-ambiente, talvez uma verdadeira Social Democracia.
Riqueza sem distribuição de renda, lucros bilionários sem a contrapartida em número e garantia de empregos, consumismo desenfreado, isso precisa acabar.

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