Meus ódios são passageiros, os amores, claudicantes, os desprezos, perenes. Nunca tive medo de odiar. Minhas fúrias são inofensivas; no máximo, palavrões secretos. Meu maior pavor é desprezar, porque tornei-me mestre em esquecer. Sou ás em mutilar-me com amnésia. Treinei para olvidar. Sou culpado de homicídios emocionais. Frio, posso esquartejar quem quiser. Calculista, assassino com desdém

Não, não estou me gabando. Sei que peco contra mim mesmo quando desprezo. Acabo com a possibilidade do perdão, tranco a porta da misericórdia e me distancio do bem. Tenho que me esforçar para não deixar que a mediocridade, que tanto detesto, me apequene. Preciso da nobreza dos mansos que suplantam as dores do passado - a minha lateja por décadas. Reconheço que me aleijo quando deleto alguém. Não gosto de ser indiferente.
Desde cedo sofri. Padeci e criei casca. Para sobreviver, revesti-me com a sobrepeliz da insensibilidade. Por isso, apaixonei-me por Jesus de Nazaré. Ele venceu o ódio sem punhal. Desarmado, só com bondade, atropelou a maldade. Sem contar com nenhum exército, fez da ternura a força mais admirável do universo.
Reconheço a minha carência. Tenho muito o que aprender. Ainda hei de acolher quem joga pedra, compreender quem é torto de inveja e caminhar duas milhas com quem conspira para destruir.
Soli Deo Gloria.
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